sábado, 24 de abril de 2010

Continuar no caminho

Quando olho pro horizonte me vejo indo embora.
O que podemos fazer se não dar as costas e partir quando tudo nos diz não?

Se eu pudesse mudar o mundo teria começado por mim, se eu pudesse realizar qualquer sonho nunca mais despertaria do nosso sonho. Assim vivemos em busca da vida, e nossas decepções por incrível que pareça nos deixam mais fortes, e isso é uma lição que dói no coração.

As pessoas que foram embora, os mortos que atormentam em noites de tempestade, a mancha negra na camiseta branca.
quando estou com o gosto amargo da derrota na boca, ainda sim tenho um sorriso de escárnio, nada me resta se não ser fiel a mim mesmo.
Meus ideais, meu amor, meu Deus e minha vida inteira na expressão máxima dos sentimentos...
"o mundo é a concepção que fazemos dele."

Então apenas pensar é criar o mundo inteiro, mãos a obra!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Obrigação e dever

Pela manhã vejo os trabalhadores indo para seu destino com faces de resignação.

A força mecânica da necessidade.

Como é enfadonho e triste se fazer algo por obrigação.
Como disse Fernando Pessoa:
"Que bom ter um dever pra cumprir e não fazer, que bom ter um livro e não ler...felizes são as crianças..."
Então me imagino longe de tudo isso, ganhando a estrada, vivendo um dia após o outro.
Ah que bom seria.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Desespero

Na escuridão da mata virgem, onde exu come degetos
E no lodo podre, morada do monstro de poluição
Na casa mal assombrada, de histórias antigas e assustadoras
Nesses lugares eu, o poeta taciturno me deitei e refleti sobre a vida e a morte

Em cemitérios de mortos esquecidos as lapides foram meu leito
E nos becos escuros onde viciados desesperam e matam, um passeio noturno

A maldição da cidade grande, o frio da calçada e das pessoas
Os versos não curam feridas nem salvam o dia
Mas vertem a dor, como num ato de desespero e agonia
De alguém que da vida só faz esperar...

Olhando o semblante de alguém que vem, sinto pena
A ilusão de que a matéria toca e existe como algo real
Pessoas e animais, lutando por água e comida
"nem só de pão viverá o homem"

Deus e o diabo dançando uma eterna valsa
Num salão vazio
Esse é o grito e o pranto que ninguém viu nem se importou
Quem nos viu chorar sozinhos no quarto naquela noite de inverno?
Quantas vezes meus punhos cerrados e o grito calado
Nossa revolta e destruição serão abençoadas
Pois nesse caos e fim
um novo recomeço...

domingo, 4 de abril de 2010

O rio do tempo


Naquela época os homens ainda eram nomâdes, e sobreviver era viver.
O céu carregado trazia a beleza melancólica dos dias cinzas...
E aquelas planícies, onde um dia seria a Macedonia, lá se encontraram pela primeira vez.
Por um momento Kail a olhou nos olhos, e achou estranho não estar desejando joga-lá no chão e possuí la ali mesmo .Queria apenas olhar.
Não falaram.

Na segunda vez trouxe frutas e disse que era um grande caçador da tribo que vivia além das margens do rio.
Nesse tempo a linguagem ainda era primitiva, e nem sempre era fácil se expressar, apesar de tudo ela entendeu, e sorriu.

Pela terceira vez teve certeza que muitas outras ainda viriam, então se amaram.
Kail e Sarcha.

"Encontrar Sarcha é como me encontrar, hoje meu coração se alegra e sente que tudo é como estar em casa novamente depois de uma grande viajem."
com essas palavras simples mas sinceras, celebraram sua união. Os deuses estavam
felizes, as duas tribos felizes, a primavera havia chegado.
Então veio a guerra...
Nos primórdios da humanidade o instinto animal e a barbárie eram virtudes de um guerreiro.
Quando a aldeia foi invadida, os inimigos vindos de além dos morros altos, chamados persas, foram impiedosos, mataram todos homens e velhos, saquearam e estruparam,
beberam e comeram durante dias, depois foram embora.Quando Kail voltou do deserto,
onde se escondera para não ser morto, encontrou sarcha, quase morta.
trocaram as ultimas palavras numa das tantas tardes cinzas da velha Europa:

"Meu amor, hoje saio da vida mas permaneço em teu coração, que eu seja uma lembrança boa como uma brisa que as vezes nos refresca e vai embora."

As lágrimas verteram ao natural, Kail sentiu ódio dos deuses, sentiu ódio de si mesmo, amaldiçoou o céu cinzento e a terra manchada com o sangue do seu amor.
Por fim se lançou em disparada em busca dos persas.Decidido a morrer, decidido
a lutar.
Amorte veio através de uma espada rápida e traiçoeira, quando sentiu o gosto de sangue na garganta e a vertigem na cabeça, simplesmente lembrou de Sarcha.
Sim estariam juntos de novo.

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A vida não acaba com a morte...
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Para se chegar a cidade de Kannauj era necessário atravessar o rio Ganges.
No fundo do seu leito, o Ganges guardava os corpos sem vida de aventureiros, que no passado assim como Kail haviam tentado a sorte num dia de tempo ruim.
A escuridão era tudo em sua volta, o vento se manifestava em toda sua fúria.
Por três vezes o pequeno barco quase virou. Mas não.
Kail olhou para o vácuo negro do céu, na profundidade de toda aquela noite de trevas agradeceu a Deus.
Sabia que por trás daquele céu havia outro céu, onde o sol iluminava e aquecia.

"Deus, energia que move o universo, mais uma vez as adversidades e o acaso tentam me destruir, mas como tudo é a manifestação do teu poder, não deve o mal prevalecer. Manifesta o teu poder atráves da minha alma."

Quando Kail chegou ao outro lado estava exausto, seu pequeno barco semi destruído.
Deitou-se no chão olhando novamente para o céu.
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Sarcha tomava seu café e mastigava o pão mecânicamente. Olhava para a televisão,mas na verdade seu olhos estavam imersos no vazio, olhavam para dentro, sentia uma dormência nos dias.
"Será que a vida será sempre assim?"
Lá fora a tempestade não dava trégua, por um instante pensou em não ir a escola.
Mas afastou a ideia, já era o terceiro ano consecutivo que estava na mesma.
Sabia que tinha que fazer, mas não gostava .
Já a caminho do ponto do ónibus viu na rua um barquinho de papel sendo levado pela água em direção ao bueiro. Sentiu algo estranho ao olhar aquela aparente cena sem importância.
Um relâmpago sonoro e luminoso rasgou o céu bem a sua frente.

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Aquele relâmpago foi um sinal pensou Kail.
O destino mais uma vez se fizera atráves da vontade, e não ao acaso.
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Muitos rios ainda vão passar pelas vidas de Kail e Sarcha, a água levando
tudo, renovando e enchendo de vida. E com a certeza de que esse rio
pode apenas levar ao lugar onde moram os sonhos, devemos continuar
e sermos um pouco como eles.