quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Doutor Apollo e Stela Farias


Quando eu era criança e estava na quarta série do ensino fundamental me disseram que uma de nossas professoras não acreditava em deus:
"Pois é, ela disse que acredita na força da natureza."
Mais tarde, disse pra essa mesma professora que eu tinha visto uma revista com fotos de crianças iraquianas de rifles na mão.
"O iraque é um país em guerra, tem que se preparar."
Hum...então deus não existe e a guerra é para as crianças também. Aquela professora era durona, ela que organizava as greves e agitava a comunidade, ela era Stela Farias, que viria a ser prefeita da nossa cidade e mais tarde deputada estadual.Foi a primeira pessoa de esquerda das muitas que eu viria a conhecer.
Passados alguns anos, eu já me encontrava com meus vinte e poucos anos, e tinha assimilado e já rejeitado a ideologia Socialista, me considerava um anarquista.
Mas, precisava de dinheiro, então surgiu a proposta: trabalhar para o ex-prefeito de Alvorada, na sua campanha para vereador.
Doutor Apollo, como todos o chamam é uma figura ímpar, melhor dizendo:um figurão.
O discurso é ponderado, e esta sempre cercado de gente, a primeira vez que nos falamos ele me disse:"Me ajudem e eu ajudo voces, não confio em papeis, eu tenho palavra". E me deu dinheiro. Foi a primeira pessoa de direita que eu conheci. Uma vez em frente a sede do PMDB eu e o "doutor" trocavamos palavras de cortesia, quando um homem de palitó, que eu nunca soube quem é nos disse:"Um liberal e um radical, os dois são perigosos."
Hum...então eu era um radical, porém eu trabalhava para um liberal.
Essas duas pessoas representaram na minha vida o simbolo de suas respectivas ideologias e posturas politicas.
Stela Farias:a professora esquerdista.
Doutor Apollo:o advogado e empresário neo liberal.

Não quero aqui tomar partido por nenhum dos dois, apenas relatar a importância que tiveram essas personalidades no meu entendimento da política na vida real.

domingo, 25 de outubro de 2009

A casinha


No alto do morro, mais afastada do centro da cidade ficava a “casinha”. Uma pequena casa abandonada onde nos encontrávamos. Bons tempos aqueles. A “casinha” era cercada por histórias e lendas, a que mais me fascinava contava a história do primeiro morador, na verdade este era pai de um de nossos amigos, e já era falecido. Me contaram a coisa toda numa das grandes noites de inverno, noites que passávamos consumindo bebidas e inalando solvente. Diziam que tomado por um surto de genialidade e criatividade este homem afirmou ter inventado um novo método para tratamento de doenças, inclusive a AIDS. Este método não tinha nada de novo, pois se tratava da dieta macrobiótica, a cura através da alimentação correta e dirigida. Porém, o fervor febril de fixação na idéia o levaram a loucura, ou,ao que pensavam ser loucura. Então construíram a “casinha” para ele e sua nova excentricidade de vida.
Através do uso do solvente como droga, eu tinha alucinações de todas as sortes, após ouvir essa história minhas viagens passaram a ter algo a ver com esse enigmático homem e sua loucura. Imaginava o fantasma dele a nos observar, cheguei de fato a ver um rosto pálido e mórbido em meio a fraca luz das velas. Essa alucinação me perseguiu por algum tempo, nunca revelei a ninguém, nunca iria assumir que sentia um pouco de medo.

Foi na casinha que tive minhas principais lições de vida na cultura alternativa . Passadas todas as grandes gerações dos anos 50 aos 90, estávamos no inicio do século 21, e nossa identidade como tribo urbana e mesmo como indivíduos era confusa. Na verdade até hoje não consegui me rotular, diria por fim, usando as palavras de Herman Hesse: não sou um homem que sabe, sim um homem que busca.
Hoje já passados quase dez anos a lembrança daquele lugar ainda me fascina e inspira, pois que todos naquela maldita e santa casa buscavam além do prazer e da liberdade, buscavam o conhecimento e alto afirmação.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Senhor das guerras


Ó grande senhor, rei da guerra e da morte,
arauto da fome e do desespero, senhor do
exercito de zumbis do Apocalipse, venha e
beba connosco esta noite...Conte-nos histórias,
lendas e contos da época em que campos floridos
de primaveras passadas foram adubados com
sangue dos inocentes, na grande higiene do mundo:
a guerra da terra. Grande senhor, mostre-nos
velhas armas, escudos e espadas, armaduras e
canhões, paus e pedras, instrumentos da luta,
limpeza e recomeço.
Nos mostre os olhos do soldado russo ainda
vivo na gélida neve, a mão tremula do garoto africano,
nos mostre a coragem e a glória, a vitória e o fim.
Nos explique a reação em cadeia do átomo ,
a formula básica da morte no hidrogênio,
nos mostre a ciência derradeira.
Grande senhor devorador de homens, beba um pouco mais,
conte-nos quem foi Napoleão, nos explique sobre a
luta pela liberdade e, a revolução. Fale sobre
grandes heróis e grandes batalhas, grandes nações
e impérios sem fim, que por fim terminaram.
Senhor, os homens fortes estão por aí prontos
a morrer pelo que acreditam e a nunca se render,
e sempre matar.
Grande senhor da guerra, nos diga como é o olhar
do camponês refletindo em sua retina a aldeia pegando
fogo naquele distante Vietnã, nos fale sobre a fé
e o deus da Palestina, o abandono e o grito numa
noite muda e surda.
Por fim grande senhor nos diga: por que lutar?

A arte na minha vida


Nossa arte é a vontade de expressão, vontade de
liberdade e expansão
O ser, sozinho na solidão cósmica viajando na viagem
exótica da vida como um passageiro...
Está a impressão da vida que queremos dividir:arte.
Uma tentativa singela de se estar em unissono com a
existência.
Assim compreendi a vontade de arte que todos temos,
alguns, como eu,tem na sensibilidade artistica o
incentivo primordial para não perecerem na depressão
da vida cotidiana e objetiva.
Outros, simplesmente são arrebatados pelas contingencias
da vida real e material.
Quem são os homens de verdade?
Os que nada podem pensar por si próprios, não tem
escolha, ou os que se aventuram no mergulho do pensar,
na arte?

Os dois fazem sacrificios, abrem mão de coisas. Só uma
pena muitas vezes não ser uma escolha nossa postura
de vida, e sim uma necessidade.
"O homem em meio as feras sente necessidade de ser
fera também."

domingo, 18 de outubro de 2009

Poema do bêbado


Meu corpo bêbado voltava pra casa fantasmagoricamente, e nos becos escuros onde as criaturas devoravam um banquete de sacolas de lixo certamente outros fantasmas flutuavam até a luz.
Redenção!
Quando volto sempre imagino quem vive naquela casa, e como pode aquela velha senhora de olhos perdidos sentada em seus excrementos um dia ter amado?
Quando Deus por fim ateou fogo ao céu e o diabo ria com os negros nas esquinas, eu andava...Pedaços podres de carne com vermes deliciosos, mulheres de mentira na noite dos sonhos perdidos, ah...A cidade grande!
O circulo deve estar perfeito, e nós, os anjos de agora, somos os herdeiros da promessa, nunca mais o tempo será nosso carrasco e o algoz agora é um pobre gatinho perdido e abandonado.
Liberdade pra ser infeliz!
Nós, os que buscamos a embriagues mais especial, o livro mais tocante, o torpor da alma no caos dos sentidos.
E o que representa a nossa existência?
Nós, os meninos e meninas estragados, são peripécias de criança nossos beijos, confronto de amantes nossas brigas, mentiras nossas verdades.
Me disseram que no sono somos todos bebes, e o que é um sonho?
Meu corpo bêbado voltava pra casa...