segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A moral do ressentimento e os ideais libertários


“Nos livros mais antigos, e nas tábuas dos profetas, em mármore ou barro, tudo teve a pretensão de estar escrito, de ser a lei, e de por um encanto cósmico palavras se tornarem o pão que alimenta e fortifica para a vida, ao mesmo tempo em que essa nos é negada.”

Podem se passar anos na vida de um homem, quem sabe uma vida toda, uma existência de submissão e ressentimento ao sistema e suas contradições.
Aqui devemos entender que o que tenho como sistema se trata de todas as organizações e suas relações mutuas de conveniência.

O que eu proponho não é uma ruptura, não se enganem.
Aqui não há nenhum arauto do apocalipse, mensageiro de um fim de caos e fogo. O que proponho é uma evolução constante e gradual, que por vezes precisa ser não pacifica. Necessita de um pouco de sacrifício e por que não ataque direto?
Sim, pois me foi ensinado tempos atrás que medimos o valor de um objetivo pelo sacrifício que fazemos por ele.
E sobre uma ação direta, tenho a dizer que me parece a forma mais honrada de vencermos a moral do ressentimento ao poder. Moral essa que rebaixa nossos valores libertários a uma fraqueza de espírito que quer nivelar a todos por baixo...Sim, jamais somos homens de ação, sempre homens de reação.
Então a síntese dessa filosofia perversa e que também pode ser chamada de aberração, me foi revelada numa visão que tive através das minhas reflexões sobre o livro “A filosofia da moral” em contrapartida aos ideais libertários.

Essa é a grande questão nascida da minha leitura de Nietzsche:
Como conciliar os valores libertários anarquistas com a moral do ressentimento ao poder, que comprovadamente tem feito tanto mau a evolução das verdadeiras virtudes do espírito humano?

Acredito agora que o poder não deve ser mais negado, e que todo ressentimento provindo da impotência dele deve ser aplacado pela superação de si e a guerra para com tudo que nos quer dominar e domesticar. Existe sim diferença entre auto disciplina e a simples disciplina imposta pela rotina. Essa ultima são rodas que devem cair, lentamente ou no tempo em que nos permitirmos a dar esse passo.

Acreditem homens com cabeça de areia estão construindo um futuro para nós.

Devemos, contudo como disse Khalil Gibran, não apenas derrubar o tirano, mas nos certificarmos que seu trono também foi derrubado, e não será ocupado novamente!

As previsões e antigas profecias devem ser negadas, pois me parece que o animal homem por vezes quer mais, e assume seu papel de agente histórico do meio, e a consciência disso tudo já não basta, por Júpiter camaradas, queremos mais que termos uma opinião ou sermos o mais intelectual do bar.
Sim, nossa vontade clama por movimento e conquista. A moral do ressentimento do velho filósofo alemão é com certeza real ,e puxa tudo para o nível do esgoto e das coisas rastejantes, mas podemos, afirmo a vocês, derrubarmos esse comportamento de ovelha ressentida e nos tornarmos libertários sem aceitarmos todas as misérias provindas dessa amargura de antigos escravos .
Aqui ouso definir uma nova linha de raciocínio libertário, livre dessas chagas.

Liberdade=conquista=vitória=nobre=felicidade

Tenhamos consciência da existência do poder, e saibamos não o compartilhar, e sim criarmos uma verdadeira relação de poderes.
Então estaremos despertos para um mundo que realmente devora os que querem ser ovelhas. E por outro lado joga no nada os que vivem na amargura da negação.
Sejamos então mais que qualquer figura de linguagem que eu possa empregar, sejamos obra nossa mesmo, em resplendor e arte teremos esculpido a nossa verdadeira imagem que até então nosso ressentimento não nos permitia ver.


sábado, 18 de janeiro de 2014

Reflexões anarquistas na era contemporãnea: versos de um andarilho acadêmico.

Enquanto eu esperava pelo jantar a noite me parecia bem serena, assim como eu. O som do ventilador desbravava o silêncio e me levava suavemente pelos confins sagrados da minha solidão. Era apenas uma quarta feira à noite.
Os Deuses tramavam seus planos astrais e eu era um joguete estúpido e sem vontade própria!
Governos articulavam políticas e guerrilhas urbanas queimavam bandeiras... E eu estava sentado em cima de minha opinião.

Ter uma opinião já é o bastante?
Pode um homem afirmar que é um homem se não tiver uma?

O destino do mundo então era traçado a minha revelia, e tudo que eu podia fazer era cozinhar bem as batatas.
A vida e obra dos grandes pensadores e revolucionários me contavam histórias de sacrifício e glória, entrega e paixão incondicional ao ideal.
Nascemos e vivemos em um mundo que se transforma constantemente, fato irrefutável. Então nos resta apenas escolhermos sermos um resultado e produto do sistema e suas evoluções e contradições, ou assumirmos de vez os rumos do que somos e poderemos vir a ser, isso por meio é claro do único meio possível para tal tarefa: a negação absoluta de qualquer paradigma. A ruptura definitiva com o meio e a alienação imposta por ele.

Concordando no abandono total das ideias pré concebidas pela ideologia e pelas políticas de conveniência, e até mesmo pela moral criada anos atrás, sim, teremos um ponto de partida para a concepção de uma personalidade mais vigorosa, autentica e resoluta.
A realidade que enfrentamos e a rotina que nos consome é o dragão que abateremos, e banhados em sangue mais uma vez teremos honrado a nós mesmos e os nossos heróis que não morrerem em vão. Então poderei sim dizer que não apenas tive uma opinião subjetiva, eu fui um Descartes ébrio de ópio em ações e experiências vivas!
Enquanto eu esperava pelo jantar e o arroz borbulhava, meu encéfalo também fervia em inconstâncias. Michael Bakunim por certo era um gênio que de tudo que fez na vida o mais bonito foi ser um homem forte e evolutivo em seus pensamentos. Tanto sacrifício que fez me faz sentir um verme ocioso, escondido atrás de livros e de um caráter acadêmico mediocremente confortável. Mas eu nunca quis isso para mim. E se eu venho até vocês com uma patética autocrítica, se deve a meu desprendimento e vontade sincera de viver na evolução e vitória dos preceitos da anarquia.

Eu não estive exilado na Sibéria, nem tramei sequestros e assassinatos terroristas, tão pouco tive o prazer de incendiar palácios, nem mesmo consegui pichar um muro. Não tenho uma arma, nem uma bandeira preta em casa. Contudo, meus olhos nunca cansam de contemplar a liberdade, e de entristecer com a miséria das prisões que a própria sociedade hipocritamente cria para se manter em seus esquemas de privilégios e burocracias, desigualdades e injustiças que se tornaram tradições e placas de bronze na entrada das cidades.

Viver por certo é nossa única opção, mas se libertar será uma conquista.
Encerro os pensamentos de hoje com uma frase de uma célebre mulher, que foi uma grande revolucionária,Emma Goldman.

“Se não posso dançar, não é minha revolução.”

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Reflexões anarquistas na era contemporãnea: versos de um andarilho

Meu corpo magro se distanciava no horizonte, e com as mãos nos bolsos e a cabeça um pouco inclinada eu sumia, me afastava em sonhos sublimes. Todos nós somos isso: um pouco do sonho da terra.
Os filósofos usam por vezes as palavras dos poetas. Pois é preciso mais que tocar em teu puro e íntimo conhecimento. É preciso que teu coração seja amante da razão.

E assim eu me lançava no universo, um fragmento presunçoso de energia, um aglomerado de átomos resistente e solto na lei do caos. Somos herdeiros da poeira cósmica.
Em ruas onduladas de casas destruídas minha imaginação voava e se divertia em meio à dor e a alegria numa mistura insana...

Segundo Nietzsche os trabalhadores esclarecidos eram os anarquistas de sua época. Hoje, em uma sociedade liberal e um estado de bem estar social falido e privatizado eu venho a vocês indagar quem são os anarquistas atualmente?

A revolução disse Marx, não vai destruir o sistema, vai tomar posse dele. Contudo, e principalmente contrariamente ao filosofo alemão, jamais entregaremos nossa liberdade e razão, em virtude de um coletivismo opressor e castrador de criatividades e potencialidades de um homem livre de fato.
Os filósofos anarquistas imagino eu, são as pessoas que ultrapassaram o processo dialético entre a tese capitalista e a síntese socialista.
E por favor, não me falem de social democracia. O jogo do poder sempre existirá, mas cabe a nós mesmos não encararmos a vida como um jogo, e sim como tudo que temos.
...
Meus passos foram breves, mas minha mente percorreu quilômetros naquela tarde.