sábado, 16 de novembro de 2013

As flores mortas e o paraíso


O meu corpo apodrecia em um cemitério qualquer.
E a noite o fogo factuo se elevou em homenagem ao que eu escrevi.
...
Era o epitáfio solene, escrito no mármore frio que agora era minha morada.

“Nem uma força guiou a vontade do homem se não sua alma"

Nascimento, crescimento, envelhecimento e morte.
Você me pergunta simploriamente:
Qual o sentido da vida se sabemos que vamos morrer?
Devo mergulhar nesse pensamento para homenagear tua dor.
...

Nosso inexorável destino aplaca a todos impiedosamente, pois devemos também ser implacáveis.
Nós, um punhado de átomos lançado na existência não devemos perder mais tempo.
Voltaremos ao pó com a dignidade suprema de quem se agarrou a vida e tirou de tudo o melhor.
Quando crianças corremos por brincadeiras, na juventude o prazer se tornou tudo e todos. Mas foi no amadurecimento que tivemos que nos curvar perante o peso da verdade:

Tudo seria tirado de nós se insistíssemos em viver em um mundo que já morreu.
Se vivermos na plenitude nossa vida não nos será tirada, terá chegado ao fim de uma jornada de aventuras. E lembrar com alegria e saudade é a afirmação do que um dia essa energia foi.
Como disse Buda, não há inferno, terra e nem céu que possa fugir da lei do carma que trás a dor da perda.
Mesmo se estivéssemos no céu, contemplado o resplendor máximo da evolução de nossos espíritos. Sim, voltaríamos nossos olhos para a terra, onde estão nossas irmãs e irmãos queridos. E tragicamente os veríamos fenecer como flores colhidas com uma beleza que se esvai e se perde na realidade imutável do mundo. Com o coração partido e triste não poderíamos mais dizer que estamos no céu ou no paraíso.
Que nos elevemos acima do inferno, da terra e do paraíso.
Tudo será tirado de nós, e desnudos e imersos na dor e na solidão nos tornaremos quem realmente somos. Os que desafiaram as rodas da vida.

E pela manhã quando o sol voltar insistentemente o mundo nos será oferecido mais uma vez.


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